Um brinde aos Pais.

Neste dia do Pai, um brinde aos melhores pais do mundo.

Aos pais elefante, aos pais gargalhada, aos pais saco de batata, aos pais leão, aos pais brilho no olho, aos pais “há-de se resolver”, aos pais helicóptero, aos pais contadores de histórias, aos pais dragão, aos pais âncora e aos pais “se estiver bem para ti, por mim também está”.

Beijocas grandes do tamanho do mundo. We love you!

As questões existenciais do Pirata

Pela primeira vez, desde há muito, muito tempo, tivemos a oportunidade de ir a Portugal em Fevereiro. Que é como quem diz, ir a Portugal fora de época, fora dos períodos das festas e dos períodos tipicamente típicos de imigras como nós. Sem a correria do Natal e das prendas, e sem os dias longos e cheios de estrada batida do Verão.

Foi também a primeira vez que o Pirata teve a oportunidade de disfrutar da família como neto único, sobrinho único, primo único… e vice-versa. E estava verdadeiramente deliciado com isso. (E o vice-versa aqui também é igualmente válido!) E tudo num modo verdadeiramente excepcional, cheio de tempo e de mimos.

Como tínhamos estado há bem pouco tempo no Monte, o regresso não estava carregado de saudades e urgência de fazer coisas, mas antes, este regresso estava assim com um ar de “vou só ali fazer aquilo que tenho que fazer”. Assim, normalmente, como se os seus dias fossem sempre assim, todos os dias. Como se a normalidade de sempre fosse acordar cheinho de frio a perguntar se já há sol, pôr o gorro na cabeça, calçar as botas e gritar “já volto!”. E ir ao galinheiro ver se há ovos e depois ir bater um papo sobre os animais da quinta com a Vovó Zé (que ela é Vovó, não é Avó!). Mas não sem antes voltar a casa a correr porque o Marley “o teooista” está por perto e precisa muito de um biscoito. E, claro, a Moura também porque “ela é tão fofinha e porta-se bem”. E depois chega o Avô Adérito e a Avó Mena e lá vai ele de novo… Encher o carrinho com erva, dar de comer às ovelhas, ver se as patas já puseram os ovos, insistir em passear a Moura à trela, apanhar laranjas, desencantar uma trotinete do armazém ou levar a bengala à vovó “porque ela às vezes esquece-se, mas já anda assim-assim”.

É por estas e muitas outras razões, que, sempre que vamos a Portugal, tirá-lo (a ele e a ela!) do Monte é uma tarefa árdua, muitas vezes inglória e, ainda mais vezes, só possível graças a activo e deliberado suborno (uma ida ao cinema, com pipocas, por exemplo. E quiçá, um Happy Meal!)

Foi num desses dias, em que muito a custo lá deixamos o verde do Monte em direcção à cidade, que o Pirata decidiu partilhar as suas inquietações existencialistas e que se resumem mais ou menos assim:

  • Gabriel: Mãe, sabes que a Vovó está um pouquinho velhinha e agora já não pode andar muito bem para ir dar o comer às galinhas. E isso é muito chato. Sabes quando é que ela vai voltar a ser mais vai ser nova?
  • Eu: Bem, a avó pode melhorar um pouquinho, mas voltar a ser mais nova, não, filhote. Não voltamos a ser mais novos.
  • Gabriel: Isso quer dizer que ela vai ficar assim sempre velhinha?
  • Eu: Sim, é isso que acontece, as pessoas vão ficando cada vez mais velhinhas.
  • Gabriel: E eu? Também vou ficar velhinho? E também vou ter que usar uma bengala?
  • Eu: Bem, sim. É isso que acontece normalmente. Nascemos bebés, depois crescemos e ficamos crianças como tu e a mana. Depois crescemos mais um bocadinho e ficamos adultos como eu e o pai. E depois mais um bocadinho e ficamos como os avós…
  • Gabriel: Isso quer dizer que a Avó Mena e o Avô Adérito já foram crianças? Também já foram à escola?
  • Eu: (Risos) Bem, sim, é isso que acontece. Todas as pessoas crescem e fazem coisas diferentes. Vão à escola quando são crianças, depois crescem e vão trabalhar. Depois ficam mais velhinhas e querem descansar e ficam em casa como a Vovó.
  • Gabriel: Mas e depois, ficamos em casa para sempre, sempre??
  • Eu: Bem… Lembras-te da Noa e do Joe? Eles também foram cachorrinhos pequeninos e destruidores (como o Marley), depois cresceram e andavam connosco para todo o lado, e quando ficaram bem velhinhos já não queriam muito sair de casa e só queriam estar no quentinho. E depois um dia ficaram tão, tão velhinhos que morreram…
  • Gabriel: Pois, e foi muito triste porque a Noa era tão fofinha.

Depois de um longo e reflectido silêncio, Gabriel, com toda a sua sabedoria, remata: Já decidi. Vou continuar sempre a ir à escola. E a brincar. Assim, nunca vou ficar velhinho.

Legenda da foto: Terça-feira de Carnaval e o Gabriel estava a preparar-se para ir brincar ao Carnaval ao Redondo (que entretanto “foi cancelado porque estava de chuva!”) no seu facto de Crash Bandicoot. A Vovó vendo tamanho aperaltamento, foi também vestir-se a rigor para tirar uma foto com o seu bisneto (“Mas é para depois meteres na moldura, não é para ficar só no telemóvel!”)