Etapas da vida.

 

Há um ano atrás estávamos a sair do Laos, depois de um projecto que não correu tão bem como o esperado. Fizemos bons amigos, deixámos para trás uma casa cheia de árvores de fruto e voltámos para Portugal sem saber o que o Futuro nos iria trazer.

Apenas uma coisa tinhamos como certa: Em Setembro começa o ano escolar e a nossa filha merece começar o ensino primário em paz e ficar ai até ao final do ano. E tudo fizemos para respeitar esse compromisso. Mantivemos o processo em stand by na escola de Vientiane, fizemos uma pré-inscrição na escola de Phnom Penh e outra em Évora. Porque era para um destes três sítios que o futuro parecia querer ir. Mas o futuro demorou a fazer-se anunciar e os dias passavam devagar demais para quem precisava de respostas. E de acção.

Como explicar que não se sabia o que se ia fazer e onde se ia viver? Como explicar que não sabiamos se ia começar a escola primária, se continuasse na escola francesa ou iria continuar no pré-escolar se ficasse em Portugal? De um dia para o outro, a porta do Laos fecha e abre-se a porta de regresso ao Cambodja. Mas um Cambodja diferente, o da capital.

E ai vamos nós. Em 15 dias, há que fazer as despedidas, fazer malas, matrículas em escolas, arranjar casa, comprar viagens e ala que se faz tarde. Nós em Portugal, o Pai no Laos. Aterramos na véspera da escola começar. O pai aterra um dia antes. O tempo suficiente para arranjar uma casa provisória e um berço para o Gabriel.

Desta vez não houve tempo para ir conhecer a escola e o professor. Desta vez a Carolina não é a estrela da turma que aterra na escola a meio do ano e é o centro das atenções. Apercebemo-nos que, pela primeira vez em muito tempo, Carolina vai entrar numa escola nova, no início do ano lectivo. E, se correr bem, vai ficar até ao final do mesmo. Entra sem tempo para introduções ou apresentações, cheia de jet lag, parecendo que se tinha esquecido novamente do Francês, numa escola gigante e em obras, com ar pouco amigo das crianças e onde quase todas as crianças já tinham os seus próprios grupos.

Foram muitas as dúvidas e o receio de estarmos mais uma vez a forçar a barra. 3 países, 5 escolas e várias atribulações em 4 anos e uma menina que só queria voar com as borboletas, sentada numa sala de aula “sem tempo para brincar”. Queriamos que ela continuasse mais um ano no pré-escolar, afinal, ela só faria 6 anos em Dezembro, e depois de tantas mudanças, porque não dar tempo para se habituar e entrar em força no próximo ano. Mas a resposta foi clara: Carolina tinha avaliações excelentes, o pré-escolar está cheio. Não há motivo para abrir excepções.

Foi um ano duro, de recomeços, avanços e recuos. A dar pulos de alegria e orgulho por cada sucesso e a ficar de coração apertadinho por cada atropelo. Tantas e tantas vezes que nos questionámos. E igualmente muitas vezes que ela pediu para mudar. Mas não havia alternativa. A solução era aprender a lidar com a escola da forma mais saudável possível.

E conseguimos. Ela conseguiu. Mais uma vez, a filha mais espectacular do mundo provou que é mais forte que tudo. Que é capaz de lidar com este mundo de crescidos cheio de regras, letras e números. Tornou-se mais dura, é verdade. Os unicórnios iam e demoravam a voltar. Mas voltavam. E, por muito que lhe dissessem o contrário, ela continuou sempre a acreditar em fadas e no poder da magia. E essa força, quero acreditar que vai ficar para a vida. É por isso, que esta pequena avaliação me enche de orgulho. Porque é fruto do trabalho e da força desta miúda sonhadora. Porque sei que esta é a maneira francesa de dizer: “Parabéns! Foste fantástica!” Porque ela merece. E nós também.

Carolina avaliação final

Agora, venham as férias que são bem merecidas!

One thought on “Etapas da vida.

Leave a comment